Morreu Mario Soares neste sábado (07/01/17)
Presidente da liberdade
Fonte: Internet
Contando-se entre os membros
fundadores do Partido Socialista (PS), Mário Soares foi uma das mais complexas
personalidades políticas europeias, e um dos mais notáveis protagonistas da
História da política portuguesa da segunda metade do século XX.
Tendo sido empossado três vezes
como primeiro-ministro de Portugal, o dirigente socialista foi ainda presidente
da República Portuguesa em dois mandatos, e há-de ser recordado sobretudo como
o ministro dos quatro primeiros governos provisórios do Portugal democrático
que iniciou oficialmente o processo de descolonização.
Foi ele também quem deu início ao
processo de adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE) e
subscreveu, enquanto primeiro-ministro, o Tratado de Adesão à CEE.
Vida no exílio
Mário Alberto Nobre Lopes Soares
nasceu em Lisboa, em 7 de dezembro de 1924, filho de Elisa Nobre Soares e de
João Lopes Soares, professor, pedagogo, autor e político da Iª. República.
Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas e em Direito pela Universidade de
Lisboa, foi professor do ensino secundário (particular) e diretor do Colégio
Moderno, fundado por seu pai. Exerceu a advocacia durante muitos anos e, quando
do seu exílio em França, foi "Chargé de Cours" nas Universidades de
Vincennes e da Sorbonne, em Paris, e professor associado na Faculdade de Letras
da Universidade da Alta Bretanha, em Rennes.
Resistente à ditadura (ao regime
do Estado Novo) e ativo na organização da Oposição democrática ao salazarismo,
Mário Soares defendeu presos políticos, enquanto advogado, participando em
numerosos julgamentos no Tribunal Plenário e no Tribunal Militar Especial.
Pela sua atividade política
contra a ditadura, foi também preso mais de uma dezena de vezes pela polícia
política do Estado Novo, a PIDE. Chegou a estar deportado sem julgamento, em
África. Também esteve exilado em França, de onde regressou três dias depois da
revolução de 25 Abril de 1974, tendo chegado à estação de Santa Apolónia, em
Lisboa, transportado pelo "comboio da liberdade", conforme ficou
conhecido o "Sud-Express" de 28 de Abril daquele ano.
Em 17 de Fevereiro de 1986,
assinalando a vitória de Mário Soares (na véspera) nas eleições do primeiro
presidente da República civil eleito diretamente pelo povo na história
portuguesa, o JN escrevia: "Mário Alberto Nobre Lopes Soares é um nome de
família sonante. Não obrigatoriamente pelos Nobres, pelos Lopes ou pelos
Soares, mas pelos Mitterrands, pelos Brandts ou pelos Palmes, todos membros
dessa heterogénea e espalhada "família" que já tantos chefes de
Estado e governantes deu ao Mundo - a Internacional Socialista (IS)".
Protagonista do século XX
Regresso do exílios após 25 de abril de 1974
Fonte:JN/PT
No entanto, Mário Soares
"chefe de governo" - conforme afirmam vários dos seus companheiros de
vida pública - não foi o melhor Soares dos vários que foram conhecidos. Dele se
dizia, na altura, que era "um especialista a derrubar governos, até os
seus! O Soares antifascista e o Soares anticomunista eram melhores do que
Soares primeiro-ministro", segundo palavras do sociólogo e cronista
António Barreto, que foi ministro da Agricultura e Pescas de Mário Soares no I
Governo Constitucional de Portugal (1976-1978).
Como um dos mais notáveis
protagonistas da História política portuguesa da segunda metade do século XX,
Mário Soares também tentou escrever (ou reescrever) história - na verdadeira
aceção dos termos -, conforme consideram personalidades que lhe foram próximas.
"Soares (nem sempre rigoroso) quis cuidar da sua história, ao mais ínfimo
pormenor", escreve António Barreto, que, em 1985, foi membro da sua
Comissão Política de candidatura à Presidência da República.
Aliás, a par das várias
biografias oficiais e/ou oficiosas de Mário Soares, a sua personalidade e ação
são descritas em outras obras diversas, as quais nem sempre foram do seu agrado
nem causam satisfação à "tribo soarista" no Partido Socialista.
Como secretário-geral do PS,
vice-presidente da IS (cargo para que foi eleito no Congresso de Genebra, em
1976, e depois sucessivamente reeleito (era Presidente Honorário desde 1986),
Mário Soares desenvolveu grande atividade internacional. Foi presidente das
Comissões da IS para o Médio-Oriente e para a América Latina, e realizou várias
missões de informação àquelas zonas, assim como à África Austral. Participou em
numerosas negociações, encontros, colóquios, congressos e missões no quadro da
IS e fora dele.
Em 13 Dezembro de 1995 assumiu a
presidência da Comissão Mundial Independente sobre os Oceanos; em Março de
1997, a presidência da Fundação Portugal África e a presidência do Movimento
Europeu; em setembro do mesmo ano, a presidência do Comité Promotor do Contrato
Mundial da Água e, em dezembro seguinte, a presidência do Comité dos Sábios do
Conselho da Europa. Era também Conselheiro de Estado.
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