Estação primavera, hora do crepúsculo vespertino quando os raios solares insistem em atravessar a atmosfera para banhar de luz a Lagoa do Parque Sólon de Lucena - recanto da natureza que enche de orgulho os paraibanos e seus “filhos adotivos”, cantada e declamada na poesia “Sublime Torrão”.
Oh, Lagoa! Dos tempos de outrora, quando foste propriedade dos jesuítas, dos drenos naturais das águas advindas do céu com as bênçãos e a generosidade do nosso criador. Espelho d’água formoso e rico em alimentação para todos, deste morada aos irerês, ave compositora das mais lindas notas sonoras das trilhas musicais no entardecer e durante o vôo natural da noite, ébrio conquistador de toda a madrugada.
Lagoa dos sentimentos fortes, às vezes tristes, sem nunca esquecer sua alegria contagiante. Das tristezas marcantes como o crime da Bambu( operário friamente eliminado no seu instrumento de trabalho: o táxi) . Horrível e desesperadora, a tragédia da balsa militar- ato da ditadura irresponsável que coloriu de luto teu belo espelho d’água- agonia da cidade das acácias que junto chorou com os familiares da classe operária.
O parque, a lagoa: palco do movimento intelectual, dos homossexuais, das mariposas, dos boêmios, dos ilustres filhos, Virginio da Gama e Melo, Caixa D’Água e do mais simples, Mocidade. Dos espaços físicos inesquecíveis como o Restaurante a Bambu, Cassino da Lagoa, Centro Estudantil Universitário (CEU),este último, glorioso pela sua resistência a ditadura militar e de embate contra as forças de opressão. Contagiantes os movimentos sociais, os protestos, as diretas já, os caras pintadas e os encontros das forças políticas.
Nos carnavais de outrora, os lança- perfumes, as serpentinas, os confetes, o pula-pula a misturar-se com o mela-mela da maizena e o pó de mico, fazendo os quase 1.000 metros rodopiar nas rodas do corso embalado pelo frevo de Capiba e o brilhante, famoso, Bloco de Ciraulo.
Hoje, ainda és verde, trazendo no seu colo os ipês, as acácias, palmeiras imperiais, pau Brasil e os jardins, que no passado acolheram os escoteiros e “as bandeirantes” nas aulas do caminhar e sustentabilidade do teu ambiente, de sabedoria e inteligência da convivência com o progresso.
Linda Lagoa do Parque Sólon de Lucena, Lagoa dos Irerês, nada fica perdido, tudo se transforma. A força da procissão dos homens e mulheres que caminham no teu coração buscou os girassóis da esperança para te contemplar com uma nova fonte d’água, apresentando um balé mágico das águas acompanhado da sonoridade de Vivaldi, Sivuca, Jackson do Pandeiro, e tantos outros.
E agora, renovada, recebes os casais apaixonados, as crianças que correm e comem a pipoca da vovó que lembra os lindos dias de outrora, no abraço da beleza poética com as sílabas métricas da rima dos corações destes filhos do sublime torrão.
SOARES, Lourenço Adolfo Ferreira (João Pessoa-PB-02 de novembro de 2010)
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