Déficit na destinação final de resíduos sólidos no Brasil: um dos desafios que preocupa os especialistas
Em 2009 quase metade do total de resíduos sólidos urbanos gerados, 22 milhões de toneladas, tiveram disposição inadequada, o equivalente a 154 estádios do Maracanã repletos de lixo.
Dados da nova edição do Panorama dos Resíduos Sólidos, apresentados pela ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, mostram que as ações voltadas ao setor não avançaram como planejado nas décadas passadas, o que pode acarretar impactos indesejáveis ao meio ambiente e à população em geral.
O Brasil gera, por dia, 182.728 toneladas de resíduos sólidos urbanos, que equivalem a 137 piscinas olímpicas cheias de lixo todos os dias. Do total gerado, 21.644 t – 16 piscinas olímpicas – não são sequer coletadas, sendo abandonadas ou deixadas em terrenos baldios, córregos, rios ou outros locais inadequados.
Em 2009 foram coletadas 161.084 t/dia, das quais 91.524 t/dia foram depositadas adequadamente em aterros sanitários e 69.560 t/dia tiveram disposição inadequada, sendo 38.459 t/dia em aterros controlados e 31.101 t/dia em lixões. “Isso signifiica que no ano todo quase 22 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos tiveram destinação inadequada. Esse total equivale a 154 estádios do Maracanã repletos de lixo desde a base até o anel superior”, compara Carlos Roberto Vieira Silva Filho, diretor executivo da ABRELPE.
Mesmo diante dessa situação crítica, o Panorama mostra cenários que indicam um futuro positivo, desde que seja implantada uma gestão de resíduos sólidos. “O documento é relevante não apenas por retratar a realidade crítica de algumas regiões, mas por se caracterizar como importante instrumento para a preservação ambiental, já que também aponta o progresso de muitas áreas e o caminho para outras”, observa Silva Filho.
É o caso das cidades do Sul do País, que se destacam por melhor tratar seus resíduos sólidos em valores absolutos. Das quase 20 mil toneladas de lixo geradas diariamente, pouco mais de 20% não têm destino final adequado.
Há também a situação do Sudeste, que mesmo não possuindo uma destinação ambientalmente correta para quase 30% dos resíduos gerados, é a região que tem o melhor potencial de investimento para melhorar a situação. “Em uma projeção de cinco anos, o Sudeste pode atingir 100% da disposição adequada de seus resíduos gerados”, analisa o diretor executivo da ABRELPE.
O Panorama revela que, de forma geral, o País caminha de maneira constante para universalizar os serviços de limpeza urbana e dar a destinação correta aos resíduos gerados. “No entanto, é preciso que o sistema de destinação de resíduos avance com urgência”, avalia Silva Filho, referindo-se aos quase 22 milhões de toneladas de lixo que ainda são dispostos de forma inadequada.
Diferentemente do Sul e Sudeste, a situação do Nordeste ainda está bem distante do desejável. A Região apresentou os piores índices de destinação de resíduos no país, com 35.845 t/dia encaminhadas para locais inadequados, que equivalem a quase 40% do total nacional de destinação inadequada e mais de 67% dos resíduos gerados na região dispostos de forma irregular.
As regiões Norte e Centro-Oeste também sofrem com a destinação inadequada, com altos índices percentuais de resíduos depositados em aterros controlados e lixões – 73,5% e 75%, respectivamente. Porém, como a geração de resíduos sólidos urbanos nas referidas regiões não é tão grande, a quantidade de resíduos com destinação inadequada também não o é – 8.878 t/dia na região Norte e 10.422 t/dia no Centro-Oeste.
Os números revelam o gargalo enfrentado atualmente pelo setor de resíduos no país, que precisa ser sanado urgentemente. “Diante dos números, é extremamente necessário a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, em tramitação no Senado, pois os princípios e diretrizes da mesma trarão avanços concretos para o setor no curto e médio prazos”, ressalta o diretor executivo da ABRELPE.
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